Chegou a altura de falar da Porsche, uma das melhores marcas de sempre.

Eu adoro a Porsche e em particular o 924, que curiosamente é um dos mal-amados pelos puristas da marca, por quebrar com algumas das tradições da marca e por mais uma vez nascer de uma parceria porsche/VW (parceria que nunca foi aceite pelos puristas). É o primeiro porsche produzido com motor frontal, com refrigeração a água.

O 924 era para ser um projecto para a VW e não para a Porsche. A VW, na altura, não tinha grande investigação e desenvolvimento em termos de design, pelo que contratou a Porsche para a criação do projecto de um desportivo. Entretanto chegou a crise do petróleo de 73  o que fez com que a VW reformulasse os seus planos futuros, estagnando assim o projecto do 924. Pouco tempo depois acabou mesmo descartar o projecto decidindo investir na criação do Golf e então a Porsche decidiu "resgatar" o 924 comprando o projecto de volta.

O 924 tornou-se num dos projectos mais lucrativos de sempre, salvando a porsche da má situação económica em que se encontrava. A razões desses elevados lucros foram várias, em primeiro lugar porque foi um dos Porsches mais vendidos e em segundo porque no contrato feito com a VW aquando da compra do projecto ficou escrito que a linha de produção seria feita por funcionários da VW e à porsche só competia a parte do design, facto este que contribuiu em muito para a redução dos custos de produção.

Este modelo foi projectado pelo holandês Harm Lagaay, e continha diversos pormenores interessantes, os faróis escamoteáveis, frente inclinada, a traseira subida e com um grande vidro que era simultâneamente a porta da bagageira.

O motor, segundo os puristas, é mais um dos pontos fracos deste 924, é um motor 2.0L VW e mesmo que era utilizado nas VW LT van. Este motor começou por produzir 95 cv, mais tarde passou para os 110cv. Posteriormente, apenas na versão europeia, produziu 125 cv.

Inicialmente os travões eram de disco a frente e tambor atrás, mas para muitos era apontados como mais um ponto fraco, fez com a porsche passasse a vender os travões a disco às 4 rodas como um extra.

As criticas ao 924 não paravam, e os engenheiros Porsche resolveram lançar uma versão mais potente, com o objectivo de melhorar a imagem do 924, assim nasceu o 924 Turbo. Com novos pistões e um turbo, este novo 924 passou a produzir 177cv de potência, a fazer 0-100 em 7,5s e a atingir uma velocidade máxima de 225 km/h.

Com este 924 Turbo vieram muitas outras melhorias como uma melhor suspensão, travões a disco às 4 rodas de base e uma caixa de 5 velocidades (em oposição ao 924 normal que tinha caixa de 4 velocidades). Este motor era muito mais apelativo, no entanto salientava mais as defeciências das restantes componentes e a durabilidade do mesmo não era aquela que a porsche tinha acostumado os seus clientes.

A porsche estava com grandes problemas, o 924 não vendia, o 928 lançado na altura também não, a imagem de marca continuava a estar centrada no 911. Outro plano foi traçado, melhorar o 924 até este fazer concorrência ao 911, porque assim, se o 924 fosse tão rapido e tão fiável quanto o 911 e, sendo o 924 muito mais barato, as pessoas, optariam por comprar o 924.

 Para reforçar os seus planos, a Porsche, testou versões deste novo 924 que tava prestes a nascer em competição de circuito, nomeadamente no 24H de Le Mans, onde viria a atingir a 6ª, 12ª e 13ª posição.

Assim nasceram os novos 924 lançados com um nome que ainda não tinha perdido a sua força, 924 Carrera GT e 924 Carrera GTS. Esta versão de rua do 924 Carrera GT entrou em produção no final de 1980 e as suas 406 unidades foram vendidas ainda antes de serem produzidas.

O desing do 924 Carrera GT era inconfundível, em oposição ao discreto 924 Turbo. O seu design era mais agressivo e mais aerodinâmico. Os guarda-lamas eram muito mais salientes, no capô salienta-se uma generosa entrada de ar.

Para além do design, muito em termos de mecânica foi melhorado. Primeiro, a suspensão recebia nova geometria e os travões foram reprojectados. Para além disso um dos objectivos traçados para este novo 924 era atingir o patamar de potência do 911 e para isso o motor foi também ele alterado. Bloco, cabeçote, pistões e bielas do VW 2,0 foram redimensionados e foi instalado um intercooler. Foi o primeiro carro no mundo a receber injecção de controlo digital, melhorando assim a sua resposta a baixa rotação.

O 924 Carrera GT produzia 210 cv, acelerava dos 0-100 em 6,5s e atingia os 242 km/h. O 924 Carrera GTS com a pressão do turbo aumentada, peso reduzido e mecânica reforçada foi o mais rápido dos 924, produzia 245 cv e fazia 0-100 em 6,2s.

Dos 59 Porsches 924 Carrera GTS produzidos, há ainda uma versão ainda mais limitada de 15 unidades chamada Club Sport, que tinha um peso ainda menor (1060 Kg) e produzia uns fantásticos 280 cv. A versão de competição (GTR) produzia 375 cv, sendo o Porsche de 4 cilindros mais potente produzido até hoje superando o 968 Turbo RS de competição com "apenas" 337 cv.

Derek Bell (piloto que conquistou diversas vitórias aos comandos de Porsches) recebeu em 1981 um destes GTS com 280 cv e disse "Sempre gostei de Ferraris pelo som que produzem, mas este meu Porsche também me arrepia em desaceleração, espocando e rosnando como gente grande. E quando falamos de estabilidade e controle, acredito que ele é o melhor. Ele é inacreditavelmente seguro em qualquer situação."

Eu confesso que sou um fan deste modelo da Porsche. Gosto muito do 924 simples, por ser um carro desportivo simples e discreto que marcou uma época e adoro o 924 Carrera GT pela sua estética agressiva e pela sua potência, gosto ainda mais do Carrera GT do que do 924 Carrera GTS que é mais potente, por um motivo.... design. Apesar do GTS ter roll-bar de origem não tem faróis escamoteáveis como qualquer um dos outros 924 e acho que é um dos apectos que marcou o 924. 

Afinal este mal-amado Porsche, com motor 2.0L VW de uma Van, chegou longe.